Cinema brasileiro inspira roteiro feito por estudantes da rede pública de Vitória

14 de setembro de 2015

 

Oficina EMEF São Vicente de Paulo - Animação 25

 

Um dos mais importantes diretores dos primeiros tempos do cinema nacional, Humberto Mauro, será a inspiração para o novo filme de animação feito por crianças e adolescentes da rede pública de Vitória. A oficina para preparação das cenas do curta-metragem “A Árvore de Humberto” será realizada de 15 a 18 de setembro e no dia 21 de setembro, das 8 às 11 horas, na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Éber Louzada Zipinotti, em Jardim da Penha, na capital.

O Projeto Animação é uma realização do Instituto Marlin Azul/Núcleo Animazul, com o patrocínio da EDP Escelsa, distribuidora de energia elétrica do Grupo EDP, e apoio do Instituto EDP. Além de articular a cultura audiovisual com outros saberes como a música, a história e a literatura, o projeto abre novos horizontes de cultura, informação e relações sociais para estudantes da rede pública através de atividades de criação coletiva.

A história foi elaborada durante a primeira oficina realizada, em agosto, na Escola Municipal de Ensino Fundamental “São Vicente de Paulo”, no Centro de Vitória. O roteiro utiliza trechos do curta-metragem “A Velha a Fiar”, dirigido por Humberto Mauro em 1964. Considerado um dos primeiros videoclipes do mundo, o filme é uma ilustração da canção popular “A Velha a Fiar”, interpretada pelo Trio Irakitan.

Com a orientação da cineasta Luelane Corrêa, os pequenos roteiristas construíram a história após uma semana de pesquisa, troca de ideias, análise e interpretação do curta-metragem, interpretação da música e dramatização de um set de filmagem.
Depois de se conectarem com a história, a segunda escola terá o desafio de construir as cenas da animação a partir da experimentação de técnicas como desenho em papel, animação em massinha, recorte e pixilation (técnica de animar pessoas através do uso da fotografia digital).

Está prevista ainda a realização de uma terceira oficina numa nova escola, dando continuidade à produção das cenas. Ao final do projeto, o filme “A Árvore de Humberto” terá roteiro, direção, desenhos e animação de alunos do 6º ao 9º ano (5ª a 8ª série) de unidades de ensino fundamental da rede pública de Vitória.

O homenageado – Nesta edição, o projeto fará uma homenagem a um dos pioneiros do cinema brasileiro, Humberto Mauro (1897-1983), cuja produção cinematográfica se deu no período de 1925 a 1974. Mineiro de Volta Grande, em Minas Gerais, o cineasta realizou mais de 350 filmes entre longas e curtas-metragens distribuídos nos gêneros ficção e documentário.

Interessava-se por mecânica, radioamadorismo e música. Quando a eletricidade chegou às cidades do interior, Humberto ficou fascinado com a novidade tecnológica. Por isso, seu primeiro trabalho foi instalar eletricidade em fazendas e sítios locais. Construiu, ainda, o primeiro aparelho receptor de rádio em Cataguases, onde viveu parte da sua vida.

Aos 26 anos, comprou uma câmara Kodak motivado pelo gosto por fotografia. Em Cataguases, conheceu o italiano Pedro Cornello, principal fotógrafo da cidade. Os dois compraram uma pequena filmadora Pathé-Baby de 9,5 mm com a qual gravaram o curta-metragem de aventura “Valadião, o Cratera” (1925).

A partir de financiadores locais, Humberto adquiriu uma filmadora 35 mm e centenas de metros de película. Depois fundou a Phebo Sul Américas Filmes. O primeiro filme da produtora “Na Primavera da Vida” (1926) contou com Humberto Mauro nas atividades de direção, roteiro, operação de câmera, cenário e iluminação. A segunda obra “Thesouro Perdido” ganhou o prêmio de melhor filme (1927).

Com a entrada de mais recursos, a Phebo Sul Américas Filmes cresceu e se transformou na Phebo Brasil Filmes, o que possibilitou ao realizador mineiro a produção de filmes em que podia expandir seu talento e criatividade. Nesta fase, uma das obras mais importantes é o clássico de cinema de arte “Braza Dormida”, distribuído pela Universal Pictures, responsável por transformar Humberto em um dos melhores diretores do cinema mudo do mercado mundial.

Os novos ares do cinema falado o levaram a integrar a equipe de realizadores da Cinédia. O musical “A Voz do Carnaval” (1933) sobre o carnaval carioca, co-dirigido por Adhemar Gonzaga, foi seu primeiro filme falado e lançou Carmen Miranda na carreira cinematográfica. Dentre outras obras, dirigiu ainda na Cinédia, “Ganga Bruta” (1933), seu filme mais conhecido e reconhecido.

Por meio de parceria com a atriz e produtora Carmen Santos, Humberto Mauro realizou sua produção de maior sucesso de público “Favella dos Meus Amores (1935)” e “Cidade Mulher” (1936), obras desaparecidas em um incêndio da Brasil Vita Filmes.

De 1936 a 1964, a convite do antropólogo Edgard Roquete-Pinto, trabalhou no Instituto Nacional de Cinema Educativo, criado pelo Ministério da Educação e Saúde, onde realizou centenas de documentários de curta-metragem sobre astronomia, agricultura e música. Fundou os Estúdios Rancho Alegre, em Volta Grande, através do qual produziu várias obras. Um dos últimos filmes desta fase chama-se “Carro de Bois” (1974).

Faleceu em 5 de novembro de 1983, aos 86 anos de idade. Em seu último ano de vida foi homenageado no Festival de Cannes como um dos cineastas mais importantes do século XX. Muitos filmes desta personalidade do cinema podem ser encontrados no acervo da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e no Centro Técnico Audiovisual da Funarte (CTAV), no Rio de Janeiro.

O que é o Projeto Animação – Criado em 2001, o Projeto Animação tem por objetivo desenvolver as formas de expressão, democratizando o acesso aos bens culturais pela população infanto-juvenil local. A cada edição, um novo filme é produzido por novas turmas de alunos, possibilitando a inclusão e o desenvolvimento do saber audiovisual para turmas de crianças e adolescentes.

Desde a criação do projeto foram realizados os seguintes curtas-metragens: “Mangue e Tal” (2002); “Portinholas” (2003); “Zen ou Não Zen? Eis a questão” (2004); “Vitória pra Mim” (2005); “Albertinho” (2006); “Ele” (2007); “Mestre Vitalino e Nós no Barro” (2008); “Um Fio de Esperança” (2009); “As Curvas de Niemeyer” (2010); “O Maestro do Tempo” (2013); “Nada, Nadador” (2014) e “O Bruxo do Cosme Velho” (2015).

Depois do lançamento, em cada edição, as obras seguem um roteiro de mostras e festivais locais e nacionais, multiplicando o acesso aos conteúdos por públicos de diferentes idades. Os filmes também são distribuídos gratuitamente para bibliotecas públicas, cineclubes e pontos de cultura.

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